Ah, como é bom quando a gente vai ao cinema e encontra um filme com uma narrativa firme, personagens cativantes, e uma trama que te prende até o final. Infelizmente, esse não é o caso de **Coringa: Delírio a Dois**. Desde que saíram as primeiras notícias sobre **Lady Gaga** no elenco e o fato de que seria um musical, já vi que algo errado não estava certo. Pra quê mexer numa receita que deu certo? O primeiro filme já tinha um tom próprio, pesado e marcante. Agora, transformar isso num musical soa não só desnecessário, como uma resposta do diretor ao fato de que ele nem queria fazer esse filme.
Aqui temos **Arthur Fleck** (**Joaquin Phoenix**) colhendo as consequências de suas ações no primeiro filme, preso em **Arkham** e cada vez mais afundado no seu colapso mental. Até que surge **"Lee"** (**Lady Gaga**), uma loirinha que chama sua atenção de cara. A gente já entende ali que ela será a **Arlequina**, mesmo que nunca a chamem assim. E bem diferente do que conhecemos da personagem, onde ela é levada ao lado CAPS da força pelo **Arthur**, aqui não, ela já é abirobada das ideias. Ela é uma personagem, cheia de camadas, que parecia prometer algo interessante no começo. A relação dela com **Arthur** tem um potencial inicial, mas é aí que a coisa começa a desandar.
Um detalhe interessante é que, no começo, as músicas até parecem fazer algum sentido, sendo apresentadas como alucinações do **Arthur**, no intuito de dar um toque artístico e dá uma camada visual ao caos mental dele. Porém, conforme o filme avança, os números musicais começam a surgir do nada, jogados no meio da história, quebrando totalmente o ritmo do filme. Toda vez que começava mais uma música, eu só pensava: “Ah, de novo não…”. O filme se perde nessa tentativa de misturar gêneros, e o que poderia ser uma ferramenta para ilustrar o caos mental de **Arthur** acaba se tornando algo chato e cansativo.
**Lady Gaga**, por sua vez, está lá mais pra cantar do que pra atuar. Ela é uma baita cantora e já provou que tem talento como atriz, mas aqui... parece que sua personagem foi subaproveitada. Fica claro que se não fosse **Gaga** no papel, provavelmente nem teria música no filme, e que tudo serviu mais pra vender álbum do que outra coisa. Pra você ter ideia, eu já tinha visto propagandas sobre o álbum com as músicas do filme antes mesmo de assistir ao filme. A personagem dela existe mais pelas músicas do que pela relevância na história, o que acaba enfraquecendo a trama como um todo. Parece que o **Arthur** alucina com música por causa da cantora; se ele fosse uma ginasta, ele alucinaria competindo nas Olimpíadas? É provável. Mais na frente, o filme revela suas motivações, o que me deu mais raiva ainda pela maneira como a personagem poderia ter sido bem aproveitada, ao invés de ficar cantando a todo momento.
Agora, sobre o **Arthur**… eu já não gostava dessa abordagem de suas ações violentas serem provocadas por seus transtornos mentais e experiências pessoais, mas dentro da narrativa do primeiro filme, fez sentido. Foi bem desenvolvido lá, mas aqui ele simplesmente gira entorno de tudo isso, até chegar ao ponto de regridir. Em vez de ver o vilão se tornar o estrategista brilhante e perigoso que conhecemos, ele se afunda ainda mais na caricatura de um homem frágil e quebrado. O **Coringa** que sempre conhecemos — aquele sociopata que está sempre um passo à frente de todo mundo, jogando um jogo psicológico — não dá as caras. O **Arthur** aqui é apenas uma sombra disso. Frágil e manipulável.
Se tem algo que se salva no filme, é a fotografia. A fotografia continua impecável, e **Gotham** segue sendo aquele lugar sombrio, decadente, do jeitinho que a gente gosta. Visualmente, o filme é um prato cheio, e as cenas são bem construídas, mostrando o alto nível de produção. Mas, sinceramente, isso não basta quando a trama é tediosa e, em muitos momentos, causa vergonha alheia. Enquanto o primeiro filme deixou uma trilha sonora marcante, e cenas memoráveis, esse aqui só me deu vontade de recuperar o precioso tempo que perdi.
Sobre o final, não vou soltar spoiler, mas a insinuação de que o **Arthur** seria uma espécie de "Coringa Zero", um precursor do verdadeiro vilão, é muita sacanagem. Sério mesmo que eu passei por dois filmes pra, no final das contas, ver isso? Tudo bem, já sabíamos que ele era uma versão diferente do personagem, mas no primeiro filme fazia sentido dentro daquela narrativa. Agora apresentar um personagem que se não fosse pela caracterização e o título do filme, ninguém o reconheceria. Se coloca "José Delírio a Dois" seria a mesma coisa.
No fim das contas, tentaram inventar a roda, mas mexeram num time que estava ganhando. Toda a tensão psicológica e a construção cuidadosa do primeiro filme foram deixadas de lado em prol de uma narrativa que simplesmente não convence. Como o **Pix** não caiu para o **Callango Nerd**, não tenho nenhuma obrigação de elogiar um filme ruim, ou até mesmo dizer que se trata de um "exercício criativo" do diretor. **Coringa: Delírio a Dois** é um filme paia, chato e decepcionante.Marcio Oliveira 1.5
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