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Planeta dos Macacos: O Reinado é um bom filme, mas perdeu a chance de ser épico


Nesta semana, dei uma revisada na saga do César antes de encarar Planeta dos Macacos: O Reinado. A trilogia inicial mandou muito bem mostrando a queda da humanidade e a regressão dos sobreviventes para um comportamento primitivo, montando uma base sólida pra continuar com a história de Cornélius, o filho de César. Mas aí vem O Reinado e faz um salto no tempo, colocando a trama gerações depois da morte do César, e o legado dele acaba sendo esquecido por alguns, distorcido por muitos, e honrado por poucos.

A decisão do diretor Wes Ball de não explorar a história de Cornélius foi o maior vacilo desse filme. Cornélius é um personagem chave nos filmes clássicos, um arqueólogo que questiona as leis dos macacos. A trilogia inicial preparou o terreno pra isso, mas a chance foi desperdiçada, resultando numa continuidade sem impacto emocional, que era um dos pilares dos filmes anteriores.


Mesmo assim, existe algo bem interessante no que é mostrado com o salto temporal, como uma metáfora de como símbolos e ensinamentos humanos vão se reinterpretando ou caindo no esquecimento com o tempo. O símbolo de César, por exemplo, era aquele desenho que ele fazia na janela enquanto vivia com seu “pai” humano. Com o tempo, o significado desse símbolo se perdeu pros macacos, embora a imagem ainda estivesse lá. Isso ilustra como significados profundos podem se diluir ao longo dos anos. No filme, vemos essas diferentes perspectivas do legado: Noa (Owen Teague) representa quem esqueceu, Raka (Peter Macon) é quem lembra e segue o legado, e Próximus (Kevin Durand) é quem distorce tudo pra seu próprio benefício.

Falando em Raka, ele desempenha um papel crucial em O Reinado. Raka não só posiciona o legado de César e dá corpo à trajetória de Noa, mas também funciona como uma espécie de Obi-Wan para o novo protagonista. A história de Noa bebe bastante da clássica jornada do herói, e Raka serve como um guia e mentor, ajudando a manter viva a tradição e a história dos macacos. Sem Raka, o filme teria perdido uma parte importante de sua conexão com o passado e a profundidade da nova trama.


O que me incomodou nesse salto temporal, além de ignorância a história de Cornélius, foi a falta de evolução dos macacos. Não sei quanto tempo exatamente se passou desde a era de César, mas para haver um esquecimento subtende que foi muito tempo, e era esperado então que houvesse um desenvolvimento, mas não é o que vemos. Os macacos ainda falam devagar e sua sociedade não mostra progresso, diferente do que era esperado devido ao nível de inteligência deles, e como era a abordagem dos clássicos.

Sobre o protagonista Noa (Owen Teague), a performance dele não causa aquele impacto esperado. Noa não tem o carisma que um protagonista precisa, e a química entre ele e Mae (Freya Allan), que também é chamada de Nova, é forçada e mal desenvolvida. No filme anterior, a menina parecia uma referência à Nova dos clássicos e acreditávamos que se tratava da mesma personagem, mas em O Reinado, o nome Nova virou só um título genérico pra um tipo de humano. Isso descaracterizou a referência e o peso simbólico da personagem original.


Um ponto alto é a cena com Próximus César (Kevin Durand), que viralizou nas redes com a frase “What a Wonderful Day.” Próximus César é um personagem intrigante, com motivações bem elaboradas e uma atuação impecável. Não chega ao impacto de Koba na trilogia inicial, mas tem uma lucidez e eloquência que impressionam. Só que, no final, ele acaba perdendo um pouco da sua grandiosidade, culminando em sua queda.

O filme também faz uma referência legal à nave perdida, algo que é central tanto no clássico de 1968 quanto no remake de Tim Burton, que também é citada no primeiro filme dessa saga. O final de O Reinado deixa uma brecha pra explorar essa trama, o que pode ser massa pro futuro da franquia.

Tecnicamente, o filme é um show de efeitos visuais e captura de movimento, sendo o mais realista de todos, mas a trilha sonora não atinge o impacto emocional dos filmes anteriores, especialmente o terceiro. Apesar de O Reinado deixar uma abertura pra futuros filmes, o legado de César e a história de Cornélius ficam pra trás. A escolha do diretor e a forma como o filme lidou com a continuidade da saga foram os principais pontos fracos, e resta saber se os próximos filmes vão aproveitar melhor essas oportunidades, embora isso talvez não recupere o impacto que Cornélius teria trazido. Marcio Oliveira 3.5

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