Se os
filmes fossem uma simulação de computador em que criam um mundo dentro de
nossas cabeças, apenas uma "pílula vermelha" poderia desvendar os
mistérios de tantas histórias às vezes perturbadoras. Matrix: Resurrections de Lana Wachowski é uma continuação audaciosa
e até meio raivosa que de alguma forma consegue atender ao legado da trilogia
original, mas sem deixar aquela impressão de nó no cérebro que o primeiro
episódio do filme deixou muita gente. Esta é uma reinicialização pesada que não
oferece uma razão convincente para sua existência a não ser arrancar uma quarta
fonte de renda dos fãs de Matrix, ávidos por novos conteúdos, e não tem nada
que se compare ao "bullet time"
de tirar o fôlego com o tipo de sequências de ação que tornou o filme original
famoso.
“Resurrections” anuncia suas intenções
após os créditos de abertura, com seus fluxos de código em Katakana verde em cascata. Dando aqui uma dica, a introdução desse
novo filme é diferente de tudo que você esperaria. Não demorei muito para
registrar que Lana Wachowski mergulharia direto em um Metaverso. Apesar,
contudo, todavia, mas, porém, por uma questão até hipotética, o mundo que se vê
dentro do filme mostra Thomas Anderson (Keanu Reeves), que o público conhece
pelo nome de Neo (mas com a cara do John Wick) que mais uma vez está na terra
dos sonhos escrevendo códigos, desta vez para seu papel como designer de videogame
trabalhando em um projeto chamado Binário. Falando nisso: Como antes, ele
também tem uma escolha aparente de permanecer ignorante sobre sua condição
existencial ou abraçar sua dolorosa verdade. Seu principal jogo pretende capturar
as mentes de milhões de Geeks e indivíduos prendendo suas mentes em uma
trilogia de jogos que têm o nome dos três filmes originais (Matrix, Matrix: Reloaded e Matrix: Revolutions). No entanto,
Thomas não está batendo muito bem da cabeça e sua mente muitas vezes vagueia em
memórias que ele não consegue saber se são memórias ou pura invenção. Sua vida
agora nesse novo mundo parece boa demais para ser verdade, mas como sempre ele continua
sem entender 'o que é real' e 'o que não é'.
Houve é
claro algumas mudanças significativas no elenco desde o terceiro filme.
Infelizmente, faltam em ação Hugo Weaving e Laurence Fishburne, que reaparecem
nesse filme apenas como relances de memória. Uma pena… Deixando de lado o
"Deja Vu" que é até o nome de um gato e o tal modal binário, ele continua sem entender por que uma mulher casada
chamada Tiffany (Carrie-Anne Moss) se parece tanto com a personagem Trinity em
seu jogo. No entanto, seu terapeuta, interpretado por Neil Patrick Harris, tenta
mantê-lo em uma aparente realidade, prescrevendo grandes doses de "pílulas azuis" que o mantêm dentro
dos limites dos parâmetros definidos para que ele possa continuar com sua medíocre
existência.
Além
de suas turbulências emocionais reprimidas e de perder o controle da realidade,
a questão mais urgente é a pressão que ele está sofrendo para desenvolver uma
versão mais recente de "Matrix". Seu chefe Smith interpretado por
Jonathan Groff faz pressão sobre ele dizendo que sua empresa (que nessa versão
de Matrix se chama Warner Bros) fará
o quarto volume de seu jogo com ou sem ele. Então o coitado continua - dia após
dia, numa rotina de enlouquecer qualquer um, engolindo pílulas azuis como se
fossem M&M’s, até que aquela gota d’agua que transborda o copo deixa sua
realidade distorcida. Bugs (Jessica Henwick) - uma jovem hacker que aparece no
começo do filme, e sua equipe (que também inclui Morpheus, agora interpretado
por Yahya Abdul-Mateen II) aparece para dar a Thomas uma verificação da realidade,
e é aí que o coitado pira ao perceber que seus jogos são baseados em
acontecimentos reais. Mas não é muito fácil acreditar em estranhos que afirmam
ter sido transferidos para uma ilusão que é a sua realidade. Até eu surtei com
essa neura toda!
Daí
vem aquelas mesmas perguntas de antes: Será que ele é capaz de entender seu
verdadeiro propósito? Quem era aquela mulher – Tiffany – que ele tem tanta
atração, mesmo sendo casada com filhos? Ele é realmente Neo, ou seria John
Wick? É sério, parece que ele não cortou o cabelo por que estava gravando as
duas sequencias quase ao mesmo tempo, Matrix e John Wick. Estas são algumas
perguntas que Matrix: Resurrections expõe diante de você. Se todas elas serão
respondidas, não é o ponto. Na verdade, o filme vai pegar você desprevenido se
você espera que seja apenas uma continuação e não algo verdadeiramente
original. Para entender isso, precisamos voltar no tempo…
20
anos atrás, Os Irmãos Wachowski deram um grande salto com Matrix. Não é todo
dia que você vê um filme popular com o tipo de sabedoria que você encontrou no
fenômeno cult e virou até tese de Mestrado de alguns aficionados. Também
ensinou toda uma geração de jovens cineastas a sonhar um pouco mais. Então, 20
anos depois e após algumas mudanças em suas vidas pessoais, Matrix não pode ser
apenas sobre 'saber a verdade' ou 'libertar sua mente'. Então, Lana (que dirigiu
sozinha, sem sua irmã), torna Matrix: Resurrections é um filme que desafia as
expectativas em todos os cantos. Cada gatilho e cada volta leva a outro portal
(acabaram-se as ligações telefônicas), mas permanece o fato meio clichê de que
só o amor pode salvar o mundo. Lana está mais ansiosa em mostrar o verdadeiro
romance que está no centro de sua história inicial. Uma vez que o filme
acredita na filosofia de que "o amor é a base de tudo" e que isso não
é apenas um problema do mundo real, mas também fictício.
Matrix: Resurrections não é a mesma Matrix de 1999 e não faz muito para remover toda aquela ansiedade que pairava como uma nuvem sobre os espectadores do cinema no final do terceiro filme em 2003. Embora o enredo deixe um pouco a desejar, o forte núcleo emocional de Resurrections e as performances de destaque de Reeves, Moss e Henwick certamente atrairão fãs de longa data da franquia de volta. O filme, no entanto, implora uma comparação com o original, enviando Neo/Wick por um caminho semelhante.
Surpreendentemente,
a ação também foi um pouco decepcionante. Já vimos personagens subindo pelas
paredes enquanto atiravam. Não há muitas novidades incluídas. E como o enredo é
meio fraco, as apostas durante as cenas de ação parecem menores do que
deveriam. Ser capaz de acompanhar os eventos que acontecem na tela é essencial
para gerar tensão. Apenas os efeitos visuais impressionam. Eles são incríveis,
tornando a imagem agradável de se olhar, principalmente na tela IMAX.
As
pessoas obcecadas por Matrix com certeza vão adorar Matrix Resurrections, devido à sua referência constante. Quem não
for aquele fã de carteirinha pode se decepcionar provocando muita confusão ao
assistir a um filme diferente. Ele foi criado para iniciar uma possível nova
série, quem sabe… Onde o filme original foi estrondosamente inovador, este deixou
um pouco a desejar. E não esqueçam de assistir à cena pós-crédito! 3 James Drury
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