Antes de iniciar, gostaria de alertar que esta análise conterá spoilers, e esse aviso é importante, pois toda e qualquer informação pode estragar sua experiência. Mas para quem já assistiu, ler uma resenha pincelada seria inválido. Para isso, irei separar os principais pontos positivos e negativos para poder argumentar de maneira mais objetiva.
**Pontos positivos**
**A trama**
Mesmo sendo o terceiro capítulo de uma trilogia, *No Way Home* se trata muito mais de um filme-evento, assim como *Capitão América: Guerra Civil*, por trazer uma gama de personagens com histórias já conhecidas do grande público, dando foco para a trama. Esse artifício é importantíssimo para o desenvolvimento da narrativa, deixando a história fluir sem quebra de ritmo. O nível de imersão é altíssimo, tanto que quase 3 horas de filme simplesmente passam voando.
**O amadurecimento do herói**
Sem sombra de dúvida, o Homem-Aranha é o personagem mais influente da Marvel, e o que o torna tão amado é sua essência como herói. Gente como a gente, que precisa trabalhar para pagar o aluguel, tem contas para pagar, família e pessoas que ama para proteger. Além de tudo isso, ele é um herói que vê sempre luz nas trevas. Ele acredita e persevera até o fim naquilo que acredita e defende. Por esse motivo, seus momentos de dor e sofrimento nos cativam tanto. Esses aspectos não haviam sido abordados ainda no MCU, e isso fez com que essa versão do herói fosse muito criticada.
Outro ponto bastante criticado era a dependência do apadrinhamento de Tony Stark, já que o herói sempre foi conhecido por sua independência e autonomia, mas aqui ele teve seu momento de redenção. Uma das mais importantes características da jornada do herói é a transformação e evolução do personagem, e isso ocorre em etapas durante toda a trama, culminando no amadurecimento do Peter em todos os aspectos de sua vida.
Tom Holland está em seu melhor momento aqui. Ele precisava e merecia um roteiro que trabalhasse todas as nuances do seu personagem. Desde os momentos cômicos, até os de aflição, desespero e dor ao perder a Tia May. A fúria estampada em suas expressões faciais e corporais trouxe toda a veracidade ao sentimento de ódio e sede de vingança contra o assassino de sua tia. Uma interpretação digna do personagem.
Durante a luta contra o Strange, Peter faz uso de uma de suas armas mais poderosas: a inteligência. A cena dele usando a geometria para aprisionar o Mago Supremo foi fantástica. Outro momento precioso desse filme, e a concretização da transformação de Aranha Nutella para Aranha Raiz, é quando Peter passa a morar sozinho e confecciona seu próprio uniforme. Nada de tecnologia Stark, nada de apadrinhamento. Essa sim é a versão do Homem-Aranha que sempre quisemos ver no MCU.
**Demolidor de Charlie Cox**
Um dia antes da estreia do filme, saiu no final do episódio da série do Gavião Arqueiro a confirmação do retorno de Vincent D'Onofrio como o Rei do Crime na série, e no dia seguinte Charlie Cox fez sua participação em *No Way Home*. O personagem não aparece como Demolidor, apenas como Matt Murdock, advogado do caso de Peter.
Sua participação é curta, porém importante, abrindo portas para o Demônio de Hell's Kitchen no MCU.
**O retorno de Andrew e Tobey**
A aparição de Andrew Garfield e Tobey Maguire é o principal acontecimento do filme. Mesmo o filme sendo fantástico, se eles não aparecessem, tudo iria por água abaixo. A participação deles vai além do fanservice, sendo importantíssima para o amadurecimento do Peter do Tom. A química dos três em cena é simplesmente fantástica. Você percebe a todo momento que, mesmo com personalidades e rostos diferentes, eles são, em essência, a mesma pessoa, e quando não compartilham exatamente da mesma experiência, compartilham similaridades.
As experiências dolorosas, a essência do amigão da vizinhança, a frase clássica do Tio Ben dita pela Tia May antes da morte, mostrando que existe um padrão na vida deles. A interação entre os três, com trocas de experiências com vilões e piadas sobre os lançadores de teia... Caramba... Eu poderia passar o dia ouvindo aquilo.
Nesse grande encontro, existe um momento de redenção também para Andrew e Tobey. Andrew consegue salvar MJ, conseguindo assim se perdoar pelo que aconteceu com Gwen, e a cura de Max Dillon. Tobey, por sua vez, pode ver Norman Osborn, Flint Marko e Dr. Octavius curados.
**Willem Dafoe Insano**
Não desmerecendo os outros vilões e seus intérpretes, mas Willem Dafoe deu um banho de interpretação com seu personagem. A dualidade entre o Norman e o Duende Verde era nítida em todos os detalhes: a voz, postura, expressões e tudo mais. Nunca vi o vilão tão insano como estava nesse filme.
Dafoe estava se divertindo com tudo, e parecia realmente que ele tinha algo pessoal contra o Peter. Phoda, phoda bagarai!
**Pontos Negativos**
**Strange bem “estranho”**
Apesar do roteiro levar a história para esse ponto, e sua trama seguir bem através das consequências de tudo isso, não me pareceu convincente que o Strange cometesse um erro assim. Digo isso com base em tudo que foi mostrado do personagem até agora.
É bem difícil de acreditar que Strange cometeria um erro tão básico como esse de realizar um feitiço complexo sem ao menos analisar todos os fatos e questionar o Peter sobre outra saída, se não aquela. Isso não faz jus ao mago chamado de "melhor de nós" pela Anciã. Sem falar que ele seria muito capaz de fazer com que as pessoas esquecessem quem era o Mysterio e tudo que ele fez e disse, ao invés de esquecerem que o Peter era o Homem-Aranha.
**Defeitos Visuais**
Tem muita coisa boa aqui, mas as coisas ruins são de doer os olhos. A textura e design do Lagarto estavam estranhas e não traziam veracidade. A versão do personagem no filme do Andrew foi infinitamente melhor.
A cena da conversa entre os três Miranhas na Estátua da Liberdade era nítida a utilização de Chroma Key na filmagem. Havia oscilação também de qualidade na movimentação dos heróis em diversos momentos, assim como na parte final, onde o Peter mostra seu uniforme novo criado por ele. Não parecia nada orgânico.
**Furos de roteiro**
Em diversos momentos da trama, o roteiro começa a se preocupar em explicar demais certos pontos, enquanto outros são simplesmente jogados para que certas ideias sejam aceitas. Um bom exemplo disso é o motivo do Max Dillon, em sua forma normal, ter cabelo na régua, cavanhaque e dentes perfeitos. Não falo nem da cura da miopia, porque isso é clássico. Afinal, a vilania é a melhor para a miopia.
**Cena Pós-Crédito**
Completamente dispensável. É nítido que houve divergência de ideias aqui, onde a Sony apresentou que o Venom faria parte do MCU em sua cena pós-crédito de *Venom 2*, e aqui aparece apenas que o Eddie Brock não saiu nem do hotel onde estava. Ficou lá enchendo a cara e voltou para seu universo, deixando sem justificativa nenhuma, um fragmento do simbionte para trás.
Não sei nem o caminho que isso irá levar, pois duvido que a Sony deixe que outro Venom surja no MCU para competir com o Venom deles.
**Trocando em miúdos**
Bom, resumindo, o filme não é perfeito, mas ele tem um coração tão grande que todo e qualquer defeito acaba se tornando irrelevante. Até a presente data, eu já assisti três vezes e posso dizer com toda certeza que *No Way Home* está se tornando meu mais novo "BvS". Quem me conhece sabe o quanto gosto desse filme e a quantidade de vezes que já assisti.
Existem filmes que, mesmo não sendo perfeitos, conseguem me cativar, e *BvS* é um deles. *No Way Home* conseguiu me cativar dessa maneira e, mesmo tendo outros filmes da Marvel que considero melhores, como *Homem-Aranha 2* e *Capitão América: O Soldado Invernal*, eles não transmitem o mesmo sentimento que esse para mim.
Não posso dizer que é o melhor filme do Aranha, mas é o melhor do Tom Holland no papel até agora. Nunca imaginei ver três gerações de cabeça de teia no mesmo filme. Isso foi PHODA BAGARAI!
Marcio Oliveira
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