Duna é um dos filmes mais esperados desse ano, seja por aqueles que já conheciam a obra através da literatura, sejam outros que se encararam com o mundo ficcional fantástico e magnífico de que foram apresentados nos trailers e outros mecanismos de comunicação. A verdade é que o filme de Duna já nasceu um "sucesso", uma vez que a expectativa para a obra já era grotesca e, atualmente, histórias desse estilo de fantasia tem sido poucas no cinema, o que confere ao público uma sensação de carência muito grande desse estilo de épico.
Nesse sentido, essa faca pode cortar para os dois lados: com expectativas muito grandes, vem grandes responsabilidades (acho que em algum multiverso o Tio Ben falou assim). E essa ansiedade do público pode gerar aquele incomodo que cai geralmente sobre qualquer adaptação, algo como: "foi legal né, mas eles não explicaram isso do livro direito, essa parte foi corrida, não teve fulanim, eu não imaginava creutano assim..." Vocês sabem.
Pois bem, eu não li os livros, e posso dizer, de antemão, que a obra notoriamente é muito densa. O filme mostra um universo extremamente complexo, principalmente do ponto de vista geopolítico e que há uma dificuldade da adaptação dessa vertente. A obra cinematográfica anda a passos largos, tentando explicar tudo rapidamente, algumas vezes de forma superficial, com acontecimentos que vão se sobrepondo de forma frenética, principalmente depois dos 30 min. de filme.
Essa velocidade na forma de contar a história não significa dizer que ela é intensa, pelo contrário (mas também não quer dizer que é chata). A obra tem uma ambientação política, e ela inicia de forma imersa nessa conjuntura, ou seja, nada de tiro, porrada e bomba no início da aventura. Ela é carregada de diálogos, informações revelantes, conflitos psicológicos e um suspense sobre as tensões que podem ocorrer por conta dessas conjunturas políticas. E é nessas questões que nasce o primeiro incomodo: pode ser que nessa enxurrada de informações complexas não haja tempo de processar tudo isso, não é uma narrativa fácil, didática, tampouco simplista. Correr com a narrativa nesse cenário pode gerar um desconforto para aquele que assiste.
Esse cenário de "obra corrida" se estende ao longo de todo o filme, praticamente. O que evidência a densidade de informações que foram necessárias adaptar do livro em tão pouco tempo. Talvez esse seja o maior ponto de instabilidade do filme. Um outro notável incomodo para alguns talvez seja a coreografia de algumas cenas de ação/luta, que não são tão fluídas, em alguns momentos simplistas, ou robotizadas. Apesar de tudo isso, filme é carrega uma série de pontos positivos, que leva o espectador a se esforçar para imergir naquele mundo, sem tanto esforço, ligando a cabeça no 220v para acompanhar as complexidades políticas que se atropelam em atos corridos.
O primeiro desses pontos é a direção de arte do próprio mundo de Duna, atrelado a efeitos especiais e figurinos encantadores. Visualmente, a obra é simplesmente magnífica. Um espectador que assiste a um trailer, por exemplo, completamente mudo, sem entender muita coisa, ainda assim fica atraído pelo mundo fantástico. A obra entrega muito bem essa ambientação daquele universo, levando a uma imersão deliciosa, e, principalmente, aos amantes de RPG a imaginar-se em um local como aqueles, experimentando através de um jogo aqueles elementos surreais.
Outro ponto forte é a trilha sonora do filme e a sonoplastia, que dançam uma com a outra em diversos momentos. Inclusive, recomendo assistir a obra em cinemas com dedicação ao sistema de som, de forma ampliada, como o IMAX, por exemplo. A experiência da obra depende, de certa forma, dessa ambientação. Escutar o som das naves, das tempestades de areia e de outros diversos mecanimos dos filme é extremamente necessário para de fato comprar a obra como um todo. Esses fatores fazem parte da experiência de Duna, assistindo em casa talvez não seja a mesma coisa (com certeza não é).
A atuação de todo o elenco auxilia demais na entrega de uma narrativa envolvente, principalmente se você comprar a obra ainda nos primeiros 30 min, onde o fator político pesa bastante (que nem todo mundo se atrai muito por essa parte política das obras). Os amplos diálogos arrancam um suspense verossímil, com uma sonoplastia que gera um incômodo positivo, o que chama a atenção para uma atração da leitura da obra original (lembra que eu falei que era meio corrido? Então, se você gostou muito, talvez esteja sedento por mais), o mesmo ocorreu com Harry Potter, por exemplo. Essa fórmula se repetiu em outros, muita gente se interessou pela leitura do livro depois de assistir algum dos filmes de Jogos Vorazes, ou uma temporada de Game Of Thrones, por exemplo.
A obra é longa e, notoriamente, introdutória. Nasce um novo blockbuster, com expectativas altíssimas, de agora em diante, não só dos fãs da literatura de Duna. Assistir nos cinemas é fundamental se você comprou a ideia desse universo fantástico, na verdade, assistir ele da melhor maneira possível, principalmente por conta dos efeitos sonoros maravilhosos que a obra oferece. Devo dizer que há alguns tropeços por conta da narrativa corrida, principalmente para os fãs mais assíduos dos livros, mas, mesmo sem ter lido, apenas analisando a adaptação, ainda assim, arrisco dizer que a obra é extremamente cativante e que de fato nos convida de forma positiva a experimentar esse mais novo universo fantástico cinematográfico. Delano Amaral 4.5
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