Dando continuidade a um universo
cinematográfico proporcionado por James Wan, que engloba filmes
como Invocação do Mal (2013), Annabelle (2014), A
Freira (2018), dentre outros, esse efeito guarda-chuva abre espaço para
outros diretores contribuírem para este vasto mundo do terror. Dirigido dessa
vez por Michael Chaves, A Maldição da Chorona guia um discurso até atraente,
que tem um subtexto com bastante potencial, porém mal explorado, mas que ainda
se torna um acerto frente a proposta do filme.
O filme é ambientado em 1970, em Los
Angeles, conta a história de Anna Garcia (Linda
Cardellini) uma experiente assistente social, viúva, que cria um casal de
filhos sozinha, se depara com um caso anormal: ao visitar a casa de uma antiga
paciente, se depara com uma situação absurda na forma de como as crianças
estavam sendo tratadas. Ao intervir, para salvá-las, Anna desencadeia uma série
de eventos que a leva a cair na maldição da La Llorona.
Os movimentos de câmera são, de muito
longe, o ponto mais forte do filme, principalmente nos médios planos contínuos.
A fotografia tem um cuidado estético que dinamiza as cenas e cria uma tensão nos
momentos de inquietação, com uma paleta de cores que nos induz não só para uma
estética sombria, mas para um caráter retrô ao filme. Tudo isso é complementado
por uma trilha sonora e sonoplastia, que não tem os mesmos acertos, mas ajuda
em muitos momentos. Talvez se o silêncio fosse opção em muitos momentos, essa
fluidez poderia caminhar de forma mais interessante.
O ambiente gerado pela direção de arte,
como figurinos e o preenchimento dos espaços, torna-se bastante fácil a imersão
na época. A maquiagem e os efeitos especiais quanto aos eventos paranormais são
de nível mediano, não incomodam, mas não são dignas de uma atenção especial. As
atuações não são ruins, algumas delas bastante positivas até, mas a estrutura
do roteiro gera momentos de estranheza que proporciona incômodos aos mais
exigentes.
O roteiro em seu início cria uma
expectativa grande para o seu subtexto, que poderia dialogar melhor a forma
como ele aborda os desafios da criação de filhos por uma mãe solteira, uma
realidade social que está inserida quase que naturalmente no filme. O primeiro
ato tem grandes acerto até dar início aos estranhos tropeços, quando a aventura
finalmente engata, as soluções para inserir os personagens no universo do terro
proposto soa como algo muito forçado.
Depois disso, o desenvolver da história, o
“meio do filme”, tem um desenrolar bastante recheado de bons sustos e na forma
criativa de abordar o terror, mas é salvo pelos efeitos especiais e pelos
movimentos de câmera. O roteiro perde seu tempo perfeito, com estranhas
conveniências e que são salvas pelo carisma do personagem de Raymond
Cruz, que infelizmente é mal explorado.
O último ato tem uma sequência de
elementos de ação bastante dinâmico e intenso, sendo talvez o ponto forte do
filme. O clímax tem seus problemas, mas a aventura e as fugas dos personagens
realmente contagiam os amantes do terror. Essa conclusão oferece base para
novos filmes, crossovers do universo e mostra um planejamento interessante,
porém que poderia ser melhor explorado.
O filme não é ruim, mas bastante regular,
se comparado com os outros do mesmo universo iniciado por James Wan,
não chega nem perto dos melhores. Para quem é fã deste universo, vale bastante
a pena, porém, não suba muito as expectativas. Talvez, um olhar melhor da
direção e uma intervenção nas “esquisitices” do roteiro, nos momentos
“forçados” em que os personagens interagem, e uma exploração melhor do seu
subtexto, melhorassem gritantemente o filme. Ainda assim, mais um pequeno
acerto, que vem sendo tímidos e difíceis, nas tentativas que ocorrem nesse
ambiente que é o terror no cinema.
Delano Amaral 3
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